terça-feira, 25 de maio de 2010

O canário Ágata e Opalino

Thiago Dias Barbosa
Sócio UCCC 41

Diante das constantes interpretações em julgamentos que observei neste pouco tempo que crio esta mutação, tomo a liberdade de escrever as minhas impressões a respeito desta cor que, considero uma das mais belas e uma das mais difíceis de ser julgada.

Em primeiro lugar entendamos alguns aspectos importantes quando falamos de um canário melânico, como o próprio nome diz, é um pássaro dotado de melanina, um pigmento depositado em sua plumagem, o mesmo pode ser negro (eumelanina) ou marrom (feomelanina), este ultimo não é desejado na grande maioria das cores.

Além da melanina outro item que compõe a coloração do canário é o Lipocromo, que pode ser amarelo, vermelho ou quando isento da plumagem, chamamos de branco. Não vou me atentar para detalhes mais técnicos como nomenclaturas oficiais, áreas de atuação do lipocromo ou depósito das melaninas, quero de uma maneira simples demonstrar a composição das cores dos canários.

Um método interessante para entendermos a composição da coloração dos canários é dividi-la em camadas, a primeira camada chamaremos de cor de fundo e sobre esta camada podemos ter a influência de dois itens:

1 – Lipocromo: Amarelo, Vermelho ou na ausência do mesmo, Branco, além disso, o lipocromo pode se distribuir de 3 formas, intenso, nevado e mosaico (se o leitor quiser entender melhor estas 3 formas de distribuição do lipocromo, existem ótimas referências bibliográficas como o manual da FOB/OBJO e livros como os da Eliane Seixas).

2 – Melanina: lembra-se dos pigmentos Negros e Marrons, pois bem, quando estes estiverem presentes junto à cor de fundo chamamos de envoltura, eles se encontram uniformemente espalhados (borrifados) junto à cor de fundo, por esta razão o canário verde é verde, a cor de fundo amarela misturada a envoltura melânica nos da à sensação visual da cor verde.

A segunda camada refere-se ao desenho do canário, as famosas estrias, bastões e chamamos tecnicamente este item de TIPO e é neste local que as melaninas atuam, em maior concentração (OXIDADOS) ou menor concentração (DILUIDOS).

Quando sobrepomos a segunda camada sobre a primeira camada temos o canário melânico, imagine uma foto de um Amarelo Mosaico (Lipocromico), coloque sobre esta foto uma folha de papel manteiga (aquelas que usávamos na 4ª série para copiar mapas na aula de geografia) com as estrias desenhadas em preto ou marrom, imaginou? Este é o canário melânico.

Entendido um pouco da coloração dos canários, vamos ao que interessa o Canário Ágata e Opalino.

Você deve estar se perguntar o porquê usei o termo “AGATA E OPALINO”, usei este termo pois antes de ser um canário opalino o mesmo é um Ágata e como tal deve em teoria apresentar todas as características básicas desta mutação clássica, seguindo o que esta contido no manual de julgamentos da FOB/OBJO (Standard Padrão).

Rápido e rasteiro, o que um canário Ágata deve apresentar?

1º – Redução da Área de atuação da Melanina Negra, isso faz com que o desenho se torne fino, paralelo e entrecortado, entretanto cabe aqui um comentário, não vamos confundir “redução” com “diluição”, apesar do Ágata ser um canário diluído, o tom da sua melanina deve ser o mais negro possível, quanto mais negro e vivo o tom da melanina, melhor a qualidade do exemplar. Complementando este primeiro item, as bordas das penas longas (remiges e retrizes) devem apresentar um tom perolado.

2º - Contraste entre desenho e cor de fundo, aqui entra a famosa envoltura, nos canários diluídos é extremamente importante que haja contraste, para tanto a envoltura, ou a melanina dispersa junto à cor de fundo (lembra da primeira camada?) deve ser mínima ou não existir.

3º - Existe uma característica marcante nos canários Ágatas que os diferenciam dos demais, é o desenho de cabeça, que deve se apresentar da seguinte forma:
· No alto da cabeça, calota negra no intenso, cinza escura nos nevados e estrias curtas e interrompidas nos mosaicos;
· Ausência de melanina no supercílio, com forte presença do lipocromo;
· Bigode bem visível e negro.

Lembrando também que a feomelanina (pigmento marrom) não é desejável no exemplar.

Desta forma temos um canário padrão Ágata, e nós criadores devemos buscar dentro do nosso plantel, pássaros que se enquadrem nestas características, sabemos que existe uma grande dificuldade em relação aos exemplares mosaicos, uma vez que os mesmos possuem uma estrutura de penas que tende a alargar as estrias, mas existe uma palavra chamada “equilíbrio” e é nesta linha que devemos focar o nosso trabalho de seleção. Se precisamos de estrias finas, paralelas e entrecortadas devemos valorizar exemplares que sigam a risca esta necessidade, seja ele um intenso, um nevado ou um mosaico.

Apresentamos o Ágata e agora falaremos dos Ágatas que também são Opalinos, o fator opalino provoca um forte redução da eumelanina marrom e da feomelanina além de uma inversão da eumelanina negra.

A tonalidade do desenho melânico de um Ágata Opalino é cinza azulado, podemos afirmar neste caso que, além de uma redução da área de atuação melânica (mutação Ágata) houve um diluição da eumelanina negra tornando-a cinza azulado, experimente colocar em um copo americano um pouco de café, qual é a cor?, Negra!. Depois aos poucos vá misturando leite ao seu café, quando completar o copo a coloração da sua mistura será um bege claro, isto é diluição.

Mais uma vez, não vamos confundir “redução” com “diluição” nos exemplares Ágatas.

Bom, até agora falamos sobre a composição da cor dos canários, a mutação Ágata e a mutação Opalino, agora temos base suficiente para analisarmos as dificuldades nos julgamentos dos Ágatas Opalinos.

Conforme falamos anteriormente é fundamental que haja contraste entre a cor de fundo e o desenho do Ágata, sem perdermos contudo a tonalidade negra (nos clássicos), é certo também que quanto mais envolto um canário for mais carga melânica o mesmo apresenta, novamente a palavra “equilíbrio” se faz presente.

Nos Ágatas clássicos este “equilíbrio” já existe e temos hoje em dia ótimos exemplares dentro do padrão da cor, desta forma o julgamento se torna mais fácil, rápido e objetivo.

Já nos Ágatas Opalinos a coisa não é tão simples assim, por ser um canário com diluição da melanina, do negro (clássico) para o cinza azulado a dificuldade no julgamento aumenta, uma vez que pássaros com mais carga melânica apresentam menos contraste com a cor de fundo (maior envoltura) e o contrário se faz verdadeiro, pássaros com ótimo contraste apresentam menor carga melânica prejudicando o seu desenho.

Além disso, também vemos exemplares Mosaicos com desenho muito largo e oxidado, algo que vai contra o padrão da cor. Devemos na minha opinião valorizar os exemplares que reúnam o melhor equilíbrio e que demonstrem as qualidades de um Ágata sob o efeito da mutação Opalino, ou seja pássaros com melanina cinza azulado, estrias finas, paralelas e entrecortadas, desenho de cabeça (calota, bigode e supercílio) além é claro do contraste evidente entre cor de fundo e desenho.

Nós, criadores que apreciamos os Ágatas Opalinos devemos continuar o nosso trabalho, buscando o melhor exemplar dentro das regras estabelecidas pela FOB/OBJO e esperamos que as mesmas sejam respeitadas e que os julgamentos sejam menos problemáticos.

5 comentários:

  1. Thiago, esse artigo vale uma publicação, parabéns.

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  2. Thiagão
    Este blog deveria ser divulgado, excelente.
    Abração
    Claudio Telles - UCCC 106

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  3. Prezado Thiago,

    Eu ainda não visto uma análise tão clara, excelente. Parabéns!

    Gervásio UNO 137

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  4. Caro Thiago
    Parabens e agradeço pela otima explicação.
    Desejo um dia ser conhecedor de tamanha cultura.

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  5. Boa tarde

    Sabe onde encontro para comprar esse canário Ágata e Opalino aqui em campinas

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